Páginas

sábado, 29 de dezembro de 2012

Natal de 2012 - segundo caderno




ESPIRITUALIDADE NAS EMPRESAS
Faustino Vicente

Às vésperas do Natal, já podemos afirmar que o consumismo vai bater novo recorde, que famílias vão se reunir para a ceia, que as igrejas celebrarão solenidades especiais, que o Papai Noel vai tentar roubar a cena do aniversariante, que a solidariedade estará à flor da pele e que a expressão  Feliz Natal  será imbatível.
Além dessas manifestações, que ocorrem anualmente, seria bem-vindo um presente...sem data de validade.
Nossa sugestão vai para os lideres de organizações,  publicas e privadas , de todos os portes e segmentos, para que a espiritualidade, sem nenhum vínculo com religião, ganhe espaço no cotidiano das empresas.
Diante das descobertas científicas, do avanço tecnológico e do progresso material no mundo, que  são bem-vindos, estamos convencidos que há um descompasso entre essa realidade e a evolução das relações interpessoais, gerando um profundo abismo entre o oceano de pobres e a ilha de ricos.
Pressão excessiva para aumentar a produtividade e reduzir custos, assédio sexual, constrangimento moral, gestão centralizadora, que inibi a criatividade dos funcionários, salários desproporcionais ao lucro de determinadas organizações e condições inadequadas de trabalho, são algumas evidências que nos levam à máxima  “quem pode manda e quem tem juízo obedece” - , uma cruel realidade em muitas empresas.
O estudo da espiritualidade, por parte de dirigentes e funcionários nas empresas, pode fazer parte da cultura organizacional, pois é uma singular oportunidade para uma profunda reflexão sobre o capital e o trabalho, o econômico e o social, a hierarquia e o autoritarismo, o questionamento de ideias, não de pessoas, o preconceito (chaga social) e o respeito, a empresa e a família,  a gestão solitária e a gestão solidária e, enfim, as metas da empresa e as necessidades do funcionário.
Dar oportunidades iguais, em seu mais abrangente sentido, para que todo cidadão possa revelar e desenvolver o seu potencial, é o alicerce indispensável para a construção de uma sociedade e mais justa socialmente e menos desigual economicamente.
Concluímos que espiritualidade é a soma de valores, que produz uma mudança para melhor, no interior do ser humano.

Faustino Vicente  Consultor de Empresas e de Órgãos Públicos, Professor e Advogado
Jundiaí (Terra da Uva) São Paulo  Brasil

Natal 2012 - 1° Caderno



O Natal existe!
Ivone Boechat

Vamos supor que nada do que os homens acreditam sobre o Natal fosse verdade?

Que aquilo tudo que os profetas disseram sobre o nascimento de Jesus, indicando até o local, era somente uma historinha pra nenhum boi dormir na estrebaria mais bonita do mundo. Que o coral de anjos nos céus de Belém, cantando a sinfonia maravilhosa, cuja letra a humanidade inteira sabe cantar (quem não canta é porque não quer, mas sabe) era somente para assustar e desmaiar pastores no campo...

Vamos supor que os reis magos, vindo de muito longe, do oriente, talvez de Bagdá, carregando presentes caríssimos, era uma propina e que cientistas pesquisadores queriam somente passear, usurpando verbas, em jurisdição alheia, nas barbas de outro rei.

Vamos supor que a fuga da família para o Egito era somente uma excursão para gastar as milhas acumuladas no lombo do burrinho de Nazaré a Jerusalém. Ou que Herodes decretou a matança das crianças só para agradar os aliados da base do seu corrupto governo.

Vamos supor que a Escola que Jesus fundou na Galiléia com educação presencial e virtual, com módulos para o ensino à distância, escrito pelos alunos ou que a sua preocupação ao mostrar a importância do uso correto da rede (web) ensinando a acessar, convidando a Pedro Tiago e João para o seu twiter (segue-me...)  ensinando a Pedro a se ligar ao provedor, dando-lhe a senha (Tudo o que ligares na terra...) foi só uma coincidência com a linguagem virtual de hoje.

Vamos supor que o sermão do monte era uma tese de doutorado, nada mais, e que os valores ensinados eram somente a oportunidade para implantar a merenda escolar, a cesta básica, o vale refeição, o exercício do Pai Nosso supervisionado.

Vamos supor que as curas maravilhosas, que não foram o foco principal do ministério de Jesus, mas sim o Seu plano de salvação, serviram somente para atiçar a inveja dos políticos milagreiros e que a cruz foi a sentença por um crime político de traição ao poder dos governantes. Se tudo isso fosse uma metáfora, se vivêssemos só esperando a felicidade e a recompensa na Terra, se não pudéssemos comemorar o Natal, porque Jesus não é o Salvador prometido, é um filósofo famoso, com jornada acadêmica encerrada, então poderíamos  parafrasear o Apóstolo Paulo:

 “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”. I Coríntios 15:9

Ivone Boechat

Dezembro de 2012



FÉ – GRAÇA OU CONQUISTA?
Humberto Rodrigues Neto

Ao contrário do que afirmam nossos irmãos de outras crenças, também cristãs, ninguém nasce com a fé, e não acredito seja ela uma graça especial de Deus concedida apenas àqueles que a mereçam.
A fé constrói-se na certeza do que nos é ensinado racionalmente, e jamais adquirida na crença em dogmas de difícil assimilação quando submetidos ao crivo do bom senso.
Construímo-la a cada dia, pedacinho a pedacinho, ante a racionalidade do que nos ensinam os bons espíritos e em face das provas irrefutáveis que a todo instante nos chegam através das mensagens que nos comunicam.
É por isso que a nossa fé é firme e não admite dubiedade ou incerteza naquilo em que realmente acreditamos.
Enquanto a doutrinação dos demais irmãos cristãos é ministrada horizontalmente, do centro para os lados, ao rés do chão, a nossa se irradia verticalmente, de cima para baixo.
Vamos tentar explicar melhor como se processa a mecânica de tais procedimentos.
Nas demais ideologias fundamentadas no Cristianismo, um homem lê as escrituras, interpreta-as a seu modo e as transmite a vários outros homens, os quais, por sua vez, as retransmitem a um grupo de outros seres, e assim sucessivamente, sempre horizontalmente, ao nível do solo.
Falível que é o ser humano, a cada transmissão de uns para os seguintes, jamais estarão livres de acrescentar conceitos pessoais e particulares àquilo que recebem, havendo, portanto, a probabilidade sempre presente de adulterações das verdades constantes dos textos originais naquilo que dizem.
A nossa filosofia, porém, nasce e vem diretamente do alto, através da voz direta dos enviados de Deus, os bons espíritos, e caem verticalmente sobre nós, imunes a interferências e livres de quaisquer erros de interpretação, já que adrede submetidos ao criterioso exame de confrades assaz experientes nessas lides.

A fé dos outros é imposta. A nossa é aceita. Eis a grande diferença.

Temos fé, não pela necessidade de sermos agradáveis a Deus, mas por estarmos convictos da verdade existente naquilo em que acreditamos.

Humberto Rodrigues Neto
S.Paulo/Brasil 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

outubro de 2012 - Caderno I


Jogo feito
por Jorge Cortás Sader Filho

Chovia fino naquela madrugada fria de meados de julho.

Interessante. A gente nunca sabe o que pode acontecer numa hora desta. O homem já com alguma idade, uns trinta e pouco, talvez, ajeitava sua japona grossa, da marinha mesmo, comprada numa loja de uniformes perto do Primeiro-Distrito Naval. Não passava frio nem no gelo, se estivesse por cima de camisa de malha com mangas compridas, como o mal-encarado estava usando. Moreno, boa altura, sapatos mocassim pretos, calça de veludo cotelê, preta também.
O conhaque espanhol estava em cima da mesa, com um copo próprio pela metade, ele já havia tomado um pouco. Acariciava uma Colt, calibre quarenta e cinco, sua arma de predileção. Estas pistolas atuais, que dão mais de quinze tiros, não são eficazes como a velha Government Model. Pesadona, boa de empunhar, sem apresentar nenhum defeito se a munição for nova ou dentro do prazo de validade. Especialmente naquela noite a arma não poderia falhar.
Goteiras pingavam a água da chuva, no velho galpão onde fora residência de um caseiro do sítio, e guardava velhas tralhas de jardinagem. Alheio a tudo isto, o homem magro continuava a beber seu conhaque com café, enquanto fumava e mexia na pistola, engatilhando, levando o cão até a frente, tirando o carregador e a bala da câmara. 
Como uma brincadeira, repetia os movimentos incessantemente. Viu quando os faróis da caminhoneta moderna varreram o quintal. “Chegou a hora”, falou consigo mesmo. Experimentado, colocou a garrafa de conhaque e dois tocos de cigarros fumados numa mochila que carregava. No bule de café e no copo não tinham suas digitais. Havia usado uma luva fina, as impressões eram de outra pessoa.

Meses antes, uma conhecida e belíssima artista de teatro e novelas de televisão, havia se passado de armas e bagagens para o lado do conhecido financista Affonso, no momento negociando uma casa de venda de pedras preciosas. Coisa grande, mas o antigo dono da maior joalheria do Rio tinha dinheiro, além de ser conhecedor de gemas de valor. A última delas era a artista famosa. Namorava o seu filho, um homem de trinta e dois anos, também metido com negócios, com a vantagem de possuir sólida formação matemática, ciência em que havia se bacharelado. Apresentara a namorada ao pai e jantaram juntos, num conhecido e elegante lugar da moda, em Ipanema. Foi o bastante para o velho ter virado a cabeça. Conhecia os casos do filho, sempre envolvido com beldades por causa de dois atributos fortes e muito favoráveis: era bonito e rico, além de jovem.

Dois meses depois, a guria já estava casada, casadíssima com o velho Affonso, que não se cansava de admirar a beleza da esposa e consumir muitos comprimidos contra a famosa disfunção erétil. Dava sempre certo.

Célio, o filho, ficou puto da vida, mas não tinha como alterar as coisas. A sacana da guria tinha trapaceado, e com o pai! 

Primeiro ele pensou em encher a gaúcha de porrada. Mas quem já foi treinado para matar sempre prefere esta opção. Havia cursado a escola de formação de oficiais da reserva do exército, e gostou muito do núcleo das forças especiais, onde saiu habilitado com louvor.

Os faróis continuavam a varrer a mata do sítio, e já não havia mais chuva, apenas a relva molhada, na qual a jovem caiu para não mais levantar, com o vestido molhado de sangue.

Jorge Cortás Sader Filho
Niterói/BR

CONTINUE A LER A REVISTA CLICANDO NA GRAVURA SUPERIOR


terça-feira, 16 de outubro de 2012

eisFluências Outubro 2012 - Caderno II


VIDA DE SANTO
por Marcelo Sguassábia

Engana-se quem pensa que vida de santo é um infinito dolce far niente. Nem ao mais preguiçoso deles é dada a graça de ficar chupando chicabon eternidade afora. E aquele estereótipo de se recostar em nuvens, entre cânticos e cítaras, é mais coisa de anjo que de santo – e anjo de quadro barroco, idealizado e fora de contexto histórico.
Santo passa maus bocados, verdade seja dita. E nem por isso os devotos lhes tratam com o devido respeito, o respeito que o santo, justamente por ser santo, exige.
Por exemplo, esse estranho hábito terráqueo de entornar no mínimo 10% da cachaça no chão da venda, dizendo que é pro santo. Posso dizer com certeza que todos eles abrem mão da homenagem e passam muito bem sem ela. Se gostasse mesmo de água que passarinho não bebe, santo não seria santo. Muito pelo contrário.
Depois, tem outra: manda a Justiça Divina que, toda vez que se oferece algo pro santo, e não se especifica pra qual santo é o presente, a oferenda seja repartida por todos indistintamente. Vai daí que cada gole oferecido é dividido, em partes iguais, para a santosfera inteira. Sabendo-se que os santos são atualmente milhares, a cada um cabe geralmente uma gotinha de nada – e não é isso que vai desviar a santaiada do bom caminho. Até aí, nada de mais. Mas acontece que se a gente levar em conta que cada pinguço manda pra goela pelo menos uns três copos da marvada, e que só no Brasil temos milhões de alcoólatras, o estrago divino é grande, provocando em vários deles internações frequentes – quando não diárias. E as mais prejudicadas são as santas, que com um tiquinho de martini já estão trançando as pernas.
Outro problema sério é as imagens dos santos – tanto as pintadas quanto as esculpidas. Tem santo lá em cima que excomunga sem dó alguns dos displicentes artistas terrenos, pela falta de semelhança deles com as imagens que os representam. Esse tipo de episódio produz verdadeiras catástrofes estéticas. Outro dia mesmo toda a corte celeste saiu em passeata, com cartazes, faixas e gritos de guerra, protestando contra um lote de 250 estátuas de Santa Edwiges que saiu de fábrica com cara de Rita Cadilac. Um repulsivo sacrilégio, que merece punição exemplar. Para evitar novos contratempos, São Tomé propôs em assembleia a instituição do selo “Ver para Crer”, que certifica a imagem beatificamente reconhecida, ou seja, aquela que tem a benção do respectivo santo e que guarda nítida semelhança com a sua figura dos tempos de carne e osso.
Além desse tipo de desrespeito, há também injustiças que agridem e irritam a turma de auréola. A maldosa e irônica expressão “Na descida todo santo ajuda” vem merecendo, de uns tempos para cá, um revide da parte dos ofendidos. Julgam eles que a frase denota uma certa acomodação, dando a entender que os santos têm braço curto e que não se empenham nas tarefas mais difíceis, onde só um milagre pode resolver a parada. “Não vamos ajudar mais na descida, ainda que o carro do sujeito esteja sem freio. Pois que se espafitem, aprendam a lição e vão para o inferno” desabafa um conhecido santo, que não quis se identificar.


Marcelo Pirajá Sguassábia 

PARA CONTINUAR A LER CLIQUE NA GRAVURA

eisFluências Outubro de 2012 - Suplemento de Poesia


CLIQUE NA GRAVURA ACIMA PARA ACEDER À REVISTA



domingo, 17 de junho de 2012

eisFluências junho de 2012


(Clique na revista para aceder ao texto completo)


NAÇÃO CRIOULA E A TEORIA DE BAKHTIN
RESENHA
Por Isabel C.S. Vargas 


Nação Crioula de autoria de José Eduardo Agualusa, autor nascido em Angola com amplo conhecimento daquela realidade e profundo interesse pela realidade brasileira, mostra o romance que ocorreu no século XIX entre Fradique Mendes, um aventureiro português e Ana Olímpia Vaz de Caminha, uma figura capaz de enriquecer qualquer narrativa pela vida cheia de situações diferentes e antagônicas, pois embora nascida escrava foi uma das mulheres mais ricas e poderosas daquela região africana de cultura portuguesa, ou seja, Angola.
É importante ressaltar que Fradique Mendes é um personagem de Eça de Queirós que Agualuza tomou por empréstimo para personagem central de seu romance incluindo na sua narrativa o próprio Eça de Queirós. Misturam-se personagens e pessoas reais.
A história se desenrola entre 1868 a 1900 e é contada através das cartas trocadas por Fradique Mendes e sua madrinha, Madame Jouarre, entre ele e Ana Olímpia e com Eça de Queirós.
Nas cartas relata seu trânsito entre personagens ricos, pobres, do clero, malfeitores, passando por situações inusitadas desde sua chegada em Angola, sua, às vezes, turbulenta permanência, o encontro casual com Ana Olímpia, por quem de imediato nutre um sentimento especial e todo o suspense – poderia dizer drama – que envolve sua amada até poder libertá-la para com ela viver.
Fradique não tem um trabalho, vive da mesada que sua madrinha lhe envia, mesmo assim tem uma vida de regalias em Angola. As cartas narram os episódios ocorridos em Angola de 1868 a 1876. Posteriormente, viaja para Pernambuco naquele que talvez fosse o último navio negreiro da época, o NAÇÃO CRIOULA, para fugir de seus perseguidores e de Ana Olímpia, pois suas vidas corriam perigo.
A partir daí suas missivas são de Olinda para onde se transferem, a princípio, para casa de amigos e, mais tarde, para uma propriedade que adquire na Bahia onde passa a viver de forma abastada reproduzindo a vida de muitos senhores com quem tivera contato em suas andanças, com escravos e bens. Lá tem uma filha, mas não permanece no Brasil. Posteriormente, vai para a França, onde morre.
Ana Olímpia e a filha Sophia fazem o caminho de volta para África.
O romance termina com uma carta de Ana Olímpia a Eça de Queirós onde ela relata a sua história.


terça-feira, 17 de abril de 2012

eisFluências de Abril de 2012


Caminho das pedras
por Abilio Pacheco

Essa é uma expressão muito comum em se tratando de dar dicas para quem quer se tornar um escritor (literário) ou para quem quer seguir uma profissão que exige algo mais que a técnica. Já é mais do que óbvio, posto já ser deveras repetido, que para se tornar um bom escritor, o ideal é ler, ler bastante. Acrescento ainda que o ideal é ler bastante do gênero de texto que você pretende escrever. Para ser um bom poeta, leia bons poetas. Para ser um bom romancista, leia os bons romancistas.
No finzinho da adolescência, fui cheio de espinhas, empacotado num macacão do SENAI até o campus da Universidade Federal do Pará em Marabá procurar um professor de Literatura para ele me sugerir algum livro (teórico – acho que eu queria um manual ou algo assim) que me ensinasse a escrever poesia. O professor Gilson Penalva, que mais tarde de seria meu orientador de monitoria, exatamente da disciplina Teoria Literária, desconversou, disse-me da inutilidade que seria a teoria, que não haveria material didatizado sobre o assunto e, como eu insisti, terminou me encaminhando para um outro profissional do magistério. Sugeriu que eu fosse falar com uma professora do ensino médio de uma escola estadual.
Ora, eu não sou metade do que o Gilson era já naquela época, mas me mostro, além de professor de literatura, escritor. Talvez por isso vez por outra alguém vem me perguntar o tal caminho das pedras, como se eu realmente o soubesse ou já tivesse trilhado por ele. Já disse que o ideal é ler bastante do gênero que você quer aprender, ou se dedicar, mas acredito que os relatos dos autores sobre a produção de seus romances também são bons passos entre penedos. Não exatamente as autobiografias ou memórias, embora alguns capítulos catando entre banalidades seja possível encontrar algo proveitoso, como o capítulo 4 do livro O texto, ou: a vida – uma trajetória literária[1], de Moacyr Scliar.



Aliás, o capítulo todo não, somente a partir da página 124. O livro de Moacyr Scliar, como bem diz o subtítulo, não é uma biografia, mas sim um memorial em que relata de sua trajetória de vida no que se refere à atividade de escritor.  Algo parecido com o que fez Manuel Bandeira em seu Itinerário de Pasárgada (aos que querem trilhar o caminho das pedras da poesia sugiro este e também Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke).
Aos leitores que desejam ser romancistas seguem as sugestões que longe de serem dicas, mas parecem um roteiro de leituras a obedecer praticamente em ordem didática. Comecem por dois textos de romancistas brasileiros do século XIX: Como e porque sou romancista[2], de José de Alencar, e Instinto de Nacionalidade[3], de Machado de Assis. O texto de Alencar reforça a minha afirmação sobre a importância do contato com o gênero ao qual se quer dedicar o jovem escritor. Alencar era o leitor da casa quando no “horário nobre” não havia televisão; na época, sentava-se a ouvir a leitura das novelas e romances de folhetim, principalmente de autores franceses e ingleses. E “foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a tendência para essa forma literária que é entre todas a de minha predileção?”, Alencar se pergunta meio que afirmando. Já o texto de Machado de Assis serve principalmente para neófitos que moram regiões não hegemônicas, como os meus autores “patrícios” da Amazônia, e mais ainda da Amazônia Paraense (existe isso?), que querem porque querem escrever sobre... a Amazônia. Uma vontade imperiosa de cantar, escrever, elogiar, fotografar, registrar, divulgar o torrão natal. Deve-se – creio eu – cantar os dramas humanos que acontecem em qualquer lugares ou época. O romancista deve se preocupar também com a boa urdidura da trama, com a construção dos personagens, com os efeitos causados pelo narrador. Descrições quase sem fim são descartáveis e o espaço na maioria das vezes um mero complemento.
Ainda na literatura brasileira sugiro a leitura do romance O risco do bordado, de Autran Dourado, e o livro Uma poética de romance, do mesmo autor


[1] André Luis Mansur publicou uma boa crítica/resenha/comentário a este livro: [http://criticasmansur.blogspot.com/2010/05/o-texto-ou-vida-de-moacyr-scliar_7644.html]
[2] O download dessa obra pode ser feito em: [http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000311.pdf]
[3] O download pode ser feito em: [http://www.ufrgs.br/cdrom/assis/massis.pdf]

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

eisFluências de Fevereiro de 2012 - Suplemento





Sinagoga Kahal Zur Israel
por Mercêdes Pordeus

No próximo dezoito de março será mais um DIA NACIONAL DA IMIGRAÇÃO JUDAICA e para entendermos melhor sobre a presença judaica no Brasil e mais especificamente em Pernambuco até o governo holandês, por isso abordamos o tema e falamos também sobre a Primeira sinagoga das Américas, localizada no Recife.
Em primeiro lugar, transcrevo o texto do historiador Leonardo Dantas da Silva, nascido no Recife.


UMA COMUNIDADE JUDAICA NA AMÉRICA PORTUGUESA
Leonardo Dantas Silva [(*)]
(publicação do texto, autorizado pelo autor)

Perseguidos pela Inquisição, os judeus, disfarçados em cristãos-novos, tentavam estabelecer-se no Brasil onde, em algumas partes, detinham 14% da população economicamente ativa. Quando da Dominação Holandesa (1630-1654), a comunidade do Recife veio a ser conhecida internacionalmente, sendo o seu passado objeto do interesse dos estudiosos dos nossos dias. A importância dos cristãos-novos e judeus na formação do Brasil colonial é estudada, de forma pioneira, pelo Prof. José Antônio Gonsalves de Mello, a partir da publicação de Tempo dos Flamengos - Influenciada ocupação holandesa na vida e na cultura do Norte do Brasil (1947) e de forma mais pormenorizada em Gente da Nação - Cristãos-novos e judeus em Pernambuco 1642-1654, Recife: FUNDAJ - Editora Massangana, 1989; 2ª ed. Recife: FUNDAJ - Editora Massangana, 1996.

Da Espanha para o mundo

Quando em 1492 os Reis Católicos de Espanha, Isabel e Fernando de Aragão, vieram a expulsar os judeus sefardins do seu território, parte das famílias transferiu-se para Portugal. A paz durou pouco, pois já em 1497, D. Manuel, Rei de Portugal, obrigou o batismo cristão de todos os judeus, criando assim a figura do cristão-novo, determinando a expulsão daqueles que não viessem a adotar a religião católica romana. Assim, segregados em determinadas áreas urbanas e obrigados a adotar uma nova religião, os judeus permaneceram em terras do Portugal continental e em terras de além-mar, alguns praticando às escondidas rituais da Lei Mosaica, até 1536, quando da implantação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. Temendo o poder da Inquisição, responsável por milhares de vítimas quando de sua atuação na Espanha, a gente da nação, como também eram chamados os judeus, iniciou a sua dispersão em busca de outras terras. Em 1537, Carlos V autorizou a instalação de alguns deles em Antuérpia; em 1550, Henrique V, de França, permite o estabelecimento de homens de negócios e "outros portugueses cristãos-novos" [sic] em cidades francesas, dando assim origem aos grupos conversos de Bordéus, Baiona, Tolosa, Nantes, Ruão; que só viriam a ser reconhecidos como membros da comunidade judaica no séc. XVIII. Na década de 1590, iniciou-se a migração da França para Hamburgo e Amsterdam, cidades onde vieram a se fixar. Outros, porém, movidos pela aventura e pela possibilidade de enriquecimento fácil, vieram tentar a sorte no Brasil, onde chegaram a integrar uma considerável parte da população, estimada em 14% na capitania de Pernambuco. (clique na revista para ler a continuação)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

eisFluências de Fevereiro de 2012



ESCOLA, FAMÍLIA E CULTURA
por Carlos Lúcio Gontijo

As escolas, mais que nunca, precisam inserir as famílias no processo educacional como meio de ao menos alcançar alguma diminuição no avanço do nível de rebeldia e agressão por parte dos adolescentes. As análises dos estudiosos e técnicos que lidam com dados relativos à violência no ambiente escolar sugerem que, antes de ser vistos como simples casos de polícia, problemas como droga e demais transgressões cometidas por crianças e adolescentes devem, numa primeira fase, ser tratados como questões pelas quais as escolas e as famílias precisam responsabilizar-se.
Logicamente, para abraçar essa exigência, a estrutura escolar necessita equipar-se adequadamente, com quadros suficientes de psicólogos e assistentes sociais, que tenham condições de dialogar com os lares dos quais provêm os alunos com problemas de comportamento ou dificuldade de aprendizado, uma vez que os professores e as escolas não podem ser utilizados como substitutos ou tomar o lugar de pai e mãe, que não raro visualizam a entidade escolar como depósito de crianças e adolescentes com as quais não conseguem ou não têm tempo de lidar.
O trabalho psicopedagógico com estudantes flagrados usando drogas no entorno ou mesmo no interior de instituições de ensino merece uma avaliação mais abrangente e multidisciplinar, envolvendo psicólogos, professores e pais, pois que é notória a percepção de que, quase sempre, os jovens usuários de drogas não são apenas jovens de lares desestruturados, mas indivíduos que vivem em ambientes nos quais impera o diálogo familiar ruim, em que é cada vez mais comum pai e mãe trabalharem para o sustento material dos filhos, ficando sem o tempo necessário para o estreitamento dos laços afetivos de compreensão, confiança, respeito e amizade, o que leva os lares a ser constituídos por estranhos que moram sob o mesmo teto. E, convenhamos, o simples apelo à força da consanguinidade pouco vale nesses casos!
Todavia é bom que nos lembremos de que educação e cultura no Brasil sempre foram áreas desprezadas e mal administradas ou tratadas como de menor relevo, apesar de todas as autoridades constituídas terem pleno conhecimento de que o país não chegará a lugar algum se não coadunar o crescimento da economia com a evolução do nível educacional de sua gente. Se assim não se der, o Brasil jamais passará de nação rica com povo pobre, porque sempre haverá bolsões de miseráveis e cidadãos incapazes de cuidar de si mesmos, exatamente pela letargia advinda da ignorância e falta de discernimento. A explícita realidade é que não existe nada mais dispendioso para o Estado que o cidadão desprovido de escolaridade e conhecimento suficiente em face das exigências do mercado de trabalho cada vez mais informatizado.
Quem como nós se entrega ao exercício da literatura e do jornalismo assiste à crescente escassez de leitores, num panorama tortuoso e de difícil saída, principalmente quando nos deparamos com caderno de cultura da importância de um jornal “Globo”, desperdiçando o precioso espaço de seu site para mesurar quantas vezes as “meninas” do Big Brother Brasil de 2011 se masturbaram no transcorrer do educativo programa. Não há como envidar esforços em prol da educação em meio a tantos fatores de deseducação dessa magnitude.
O povo brasileiro (todos nós) está à espera da inauguração de uma escola assentada em ensino democrático, onde a comunidade escolar seja protegida pela prática de conceitos didático-pedagógicos modernos, ministrados por professores bem remunerados e em constante reciclagem. Somente dessa maneira nosso sistema de ensino será capaz de transmitir conteúdo didático e lições de solidariedade e amor ao próximo, que ficarão fixados na mente dos estudantes através da harmônica sintonia entre instituições de ensino e pais de alunos, numa interação que, mais que salvar jovens da ignorância, os afastará da delinquência proveniente do poder de cooptação praticado pelos inescrupulosos agentes do narcotráfico, que tão bem sabem tirar proveito da falta de união, compromisso social, senso coletivo e congraçamento da chamada sociedade organizada.

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista

domingo, 12 de fevereiro de 2012

eisFluências de Dezembro de 2011 - Suplemento



DEVANEIOS NATALINOS
Conto de Ary Franco
         
Durante a noite sou despertado por uma luz intensa que invadiu o quarto em que dormia. O relógio digital sobre a mesinha de cabeceira marcava 2:34h.
Assusto-me ao ver um homem, estranhamente vestido, envolto em um manto, sentado ao pé da minha cama e um menino de uns quatorze anos, em pé atrás dele. Sinto que aquela figura me é familiar, muito embora, nunca tenha sido bom fisionomista. Faço menção de sentar-me mas não consigo e, ao mesmo tempo, quero indagar, quem é você? O que o senhor faz aqui no meu quarto? Mas minha voz não sai.
Para surpresa minha, a pessoa responde-me, sem pronunciar uma única palavra:
– Nada temas. Vim em paz, para visitar-te. Chamo-me Jesus, sou teu irmão, portanto, não me trates por senhor.
Atônito, paralisado, ouço ao lado minha esposa ressonando, alheia ao que estava se passando.
– Jesus... Cristo? E quem é este menino atrás do senh.. de você?
– Este é o teu protetor. Acompanha-te desde que nascestes e costumas chamá-lo de anjo da guarda, em tuas orações.
– Mas ele não tem asas! Ambos sorriem e continuamos falando-nos, sem palavras proferidas, apenas em pensamentos transmitidos telepaticamente.
– Já que não voas, para acompanhar-te ele não necessita de asas!
– A que devo sua sublime visita, se és realmente quem dizes ser?
– Como já expliquei, vim visitar-te. Aproveito para pedir que intensifiques as ajudas que prestas ao próximo. Sei que podes fazer mais do que tens feito. Quando fores chamado pelo Nosso Pai é preciso que carregues em tua bagagem apenas coisas leves, importantes e essenciais que facilitem tua subida até Ele. Enche-a de amor, benevolência, perdão, caridade, carinho, solidariedade, humildade, bondade, auxilia teus irmãos mais carentes e necessitados. Não leves contigo rancor, ambição, ódio, vingança, revolta, egoísmo, desprezo, ingratidão, orgulho, indiferença. Livra-te de todos esses sentimentos pesados, negativos e pecaminosos, que só servirão para dificultar tua última viagem em ascensão a Deus Nosso Pai.
– Prometo, doravante, proceder como você diz e quero aproveitar para dar-lhe parabéns pelo seu aniversário que será comemorado, agora neste dia 25 de dezembro.
– Que ele seja por ti comemorado mas dividindo tuas alegrias com os nossos irmãos enfermos e carentes. Agora terei que ir para fazer outras visitas. Contigo permanecerá teu Anjo da Guarda, como costumas chamar.
A escuridão voltou ao quarto e eu corri para trancar-me no banheiro e chorar profusamente. Foi um pranto silencioso abafado pela emoção e afogado em lágrimas que adoçaram minha boca ao por ela passarem.
Para não fazer barulho, algum tempo depois, recomposto, voltei descalço para a cama, deixando meus chinelos no banheiro. Virando a cabeça no travesseiro, vi que o relógio digital mostrava-me as mesmas 2:34h que tinha visto, quando da aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, entendi que nada daquilo havia acontecido, a prova evidente era a hora indicada no relógio. Virei-me para o lado e consegui conciliar meu sono, embalado pelo lindo sonho que acabara de ter e que havia me despertado, mas que nem da cama havia eu me levantado.
Só que um arrepio percorreu meu corpo, ao acordar no raiar do dia: MEUS CHINELOS ESTAVAM NO BANHEIRO! Prostrei-me de joelhos em fervorosa oração!

Ary Franco
Poeta e contista
RN/BR 


eisFluências de Dezembro de 2011



AS CARACTERÍSTICAS DA ARTE MODERNA
Por Clóvis Campêlo

Segundo José Guilherme Merquior no livro "Formalismo e tradição moderna: o problema da arte na crise da cultura", de 1974, é dentro da própria consciência geradora do saber da cultura ocidental que a estética moderna encontrará campo para dar vazão ao sentimento de insatisfação que a invade. Mostra-nos o autor que nada "poderia ser mais eloquente do que a simples menção da influência de duas ciências humanas na arte moderna: a psicanálise e a antopologia". E ambas se prestam a esse papel por provocarem constantes "deslocamentos" no pensamento que as gerou. Assim, munidos de novos "instrumentos", os artistas modernos encontram condições de manifestar a negação e a perplexidade da arte em relação aos caminhos dos tempos contemporâneos. Valorizando os impulsos libertários do inconsciente, bloqueados pela ética do pensamento conservador, os modernos passam a salientar o "caráter repressivo do princípio da realidade" como uma limitação às possibilidades vitais do homem. Assumem, desse modo, uma postura "vocacionalmente surrealista", instalando, no bojo do seu pensamento, a "mística da liberdade espiritual", fonte da contracultura de vanguarda no final do século passado.
A desconfiança da arte moderna ante os valores da cultura ocidental faz com que, juntamente com a vontade de ruptura cultural, desenvolva-se, na primeira, uma tendência ao hermetismo. Tal tendência intensifica o isolacionismo cultivado pelo artista a partir do pós-romantismo, afastando, com desdém, a estética moderna das massas (muito embora estas se mostrem cada vez mais alfabetizadas) e encaminhando a arte moderna para uns postura semântica elitista. O poeta moderno cerca de obstáculos o acesso ao significado da mensagem poética e, almejando alcançar um público seleto, cria obras que jogam com significados incertos, esquivos e obscuros.
Por compreender que o fácil entendimento das obras significa a banalização e a alienação da informação (tal assertiva torna-se interessante em um mundo caracterizado pela "democratização" da informação e pela proliferação do simulacro enquanto meio de consciência cósmica, ao mesmo tempo em que serve para desnudar mais um aspecto contraditório das artes modernas), o bardo moderno envereda por caminhos esotéricos e inusitados (mudança quanto ao conteúdo), enquanto adota contra a linguagem comum (alteração quanto à forma) o que Ramon Jakobson, numa tentativa de definir a literatura sob a ótica dos formalistas, classificou como "violência organizada".
Concomitantemente a esse movimento de afastamento das massas verificado na estética moderna, a arte de vanguarda experimenta uma "universalização dos horizontes mentais", estabelecendo entre os artistas modernos uma comunicabilidade definitivamente diluidora do sentimento de "cor local" dos românticos e que, transcendendo as nacionalidades, provoca o cruzamento de temas e estilos, em que pese cada literatura estar irremediavelmente ligada ao espírito da sua língua.
Desse modo, segundo a ótica de Merquior, são quatro os movimentos que caracterizam a passagem da arte romântica para a arte moderna: a mudança de uma concepção mágica de arte para uma concepção lúdica, desdobrada em visão grotesca (jogo quanto ao conteúdo) e experimentalismo (jogo quanto à forma); transformação da oposição cultural romântica em ruptura; afastamento das grandes massas e tendência para o hermetismo, e, encaminhamento da poética atual para o cosmopolitismo e para um futuro planetário.
No entanto, se o primeiro movimento faz com que a arte moderna manifeste uma saudável tendência de revigoramento e renovação, ao mesmo tempo em que nega os valores culturais que contradizem a afirmação humana, tendência essa confirmada no movimento de ruptura (afastamento), o terceiro movimento (elitização e hermetismo) é contraditório e caminha em sentido inverso aos anteriores. Por seu lado, o quarto movimento (cosmopolitismo) parece nos indicar que a grande arte, perdida a sua função mágica e situada em uma cultura de massa onde prevalece a divisão de classes (característica supranacional), exercita essa permeabilização universalista como forma de uma adaptação necessária à sua sobrevivência.
Para finalizar, consideremos que o conceito de arte moderna, ainda segundo Merquior, prende-se muito mais aos fatores internos observados nas obras de arte do que a sua contemporaneidade. Tal fato se deve a permanência, ainda hoje, na tradição da arte moderna de elementos românticos não submetidos ao novo estilo e que atuam como fatores de estreitamento e de enfraquecimento da arte moderna, reduzindo a sua capacidade de elaboração de uma crítica da cultura e diminuindo a sua energia criadora. Dessa maneira, nem toda a arte contemporânea pode ser considerada "arte moderna", assim como podemos estabelecer a existência de diversos graus de "modernidade".

Clóvis Campêlo
Recife/Br


eisFluências de Outubro de 2011



DOIS ANOS
Dois anos de eisFluências.

Dois anos onde pusemos as nossas esperanças e o nosso amor à arte da divulgação cultural.
Dois anos em que procurámos incansavelmente, oferecer ao leitor o que de melhor há em literatura, pesquisando meios desconhecidos do publico leitor, e enfrentando as dificuldades inerentes a qualquer revista, para obtermos o prazer final da edição que vá agradar a quem nos lê.
Podemos parecer presunçosos, mas se analisarmos profundamente cada revista, desde a primeira edição, veremos  como a cada edição fomos crescendo, não só na aparência, como no conteúdo.
Foi um começar atabalhoado, próprio de qualquer revista nova que se dá à estampa, e somente na continuação se foram firmando os nossos quereres.
A Direção da revista eisFluências, bem como os seus autores coadjuvantes,  é composta por pessoas que amam a literatura, amam a poesia e as artes em geral e, sobretudo, gostam de partilhar conhecimentos.
É na partilha de conhecimentos que reside o maior bem da humanidade e sem essa partilha ainda hoje dormiríamos na idade da pedra.
Todos sabemos que a internet nos abriu perspectivas nunca antes imagináveis e que através dela tomámos vários poderes, inclusive o da divulgação literária.
Mas muitas pessoas ainda não têm acesso a este bem maior, por isso a eisFluências desde o seu primeiro número preocupou-se em transmitir o conhecimento a pessoas privadas desse acesso, imprimindo cem exemplares para distribuir por órgãos ligados à cultura.
Tarefa difícil, se pensarmos que a impressão desses exemplares sai do orçamento familiar de quem faz a revista e, por isso, em Agosto, a revista no seu site http://eisfluencias.ecosdapoesia.org/ lançou a campanha “Doações” .
Entretanto, temos tido gratas surpresas, como a de chegarmos a consultórios e vermos várias revistas eisFluências expostas, para quem as quiser ler enquanto espera a solução para os seus males.
Certo dia, num consultório, uma pessoa que lia quase que avidamente a revista, comentou connosco (sem saber quem éramos) a utilidade do acesso gratuito à cultura, num consultório onde geralmente só se encontram revistas sem valor cultural.
Isso levou-nos a pensar, mais uma vez, que as pessoas têm avidez de cultura e só não acessam a ela porque a selva da cidade não deixa, nem a dispõe em locais de fácil acesso. Aqueles locais onde o público tem de parar obrigatoriamente e onde a maioria das vezes cochila ou vê os defeitos do teto, ou aprecia intimamente o modo de vestir de cada um, sem ter algo mais para percorrer com os olhos, sem ter uma revista que lhe dê algo diferente.
Isto é, também, caro leitor, a nossa (vossa) revista eisFluências.
A eisFluências procura chegar aonde a cultura não chega e pretende ser um órgão de divulgação, competente e multifacetada, igualmente para estes leitores, da cultura mais afastados.
Muito, mas mesmo muito, há a fazer ainda, assim Deus o permita.
É com orgulho, muita fé e perseverança que chegámos aqui e queremos continuar, pelo menos com mais um zero à frente do dois, (?) e se a vida não nos permitir, outros que o façam por nós, mas com a mesma seriedade, amor e competência.
Contamos consigo, estimado leitor, e para o ano cá estaremos, se Deus quiser, para comemorarmos juntos mais um aniversário.
Para todos uma boa leitura

Victor Jerónimo
Director da revista eisFluências
Recife/Brasil
Lisboa/Portugal

eisFluências de Agosto de 2011



O HOMEM E A FLOR DO IPÊ AMARELO
Luiz Poeta
( Luiz Gilberto de Barros ) – às 18 h e 52 min do dia 22 de julho de 2011 do Rio de Janeiro, especialmente para a revista eisFluências.

O modestíssimo  homem caminhava pela cidade, levando uma flor... pela mão.
Não era uma flor qualquer...era uma flor de ipê amarelo, que o acompanhava e ria para o pudico sorriso de uma pessoa apenas preocupada em misturar fantasias com reflexões.
Seguindo cada passo que ambos davam, os passarinhos pulavam de galho em galho, de fio em fio, entoando cantos que contrastavam com os rumores metropolitanos. E para completar sinestesias paralelas, borboletas multicoloridas emolduravam aquele momento único, desfilando vangogues dentro dos olhos da flor e dos sonhos do homem.
Os indivíduos que estavam em frente à banca de jornais situada no coração da praça, ou que tomavam suas bebidas matinais, olecraniados nos balcões das padarias e bares, e que taquicardiavam conversas ruidosamente gesticuladas, os condutores dos ônibus lotados de pressas e reclamações,  os motoristas de veículos particulares transitando confortos de pendrives plugando canções sonolentas, e todos quantos ali estavam, celebrando a fisiologia da vida,  pararam para olhar a inusitada imagem daquele homem simplório  conduzindo  uma magnífica flor de ipê amarelo... pela mão.
Não se sabia definir quem era mais louco: o homem com a flor, a flor com o homem, o padre que se benzera, o ciclista que caíra sobre uma freira orando, ao celular, o bêbado que raciocinara, o policial que se auto-algemara, a vocalize que silenciara, o capitalista  que se engravatara a um filósofo da plebe rude, espremidos, todos, unissonamente boquiabrindo sussurros, estarrecidos diante daquela inefável cena que se movimentava na ternura ótica dos que ainda sonambulam lirismos diurnos, observando algum resquício de poesia nos jardins de uma praça espremida entre sombras arquitetônicas que se esgueiram de prédios absurdamente monumentais.
O homem era pequenino, esquálido, compulsivamente feliz, gengivando sorrisos no espasmo das mais tenras e ternas alegrias... a sedutora flor apenas dourava o ambiente, despetalando taciturnas seduções, e  distraindo-se com a simpaticíssima e bucólica solidão humana que tornava aquele cidadão, mais que gente, uma outra alma... de flor.
Súbita, abrupta e repentinamente, como consequência daquele êxtase coletivo de olhares perdidos, mirando um simples homem e uma flor humanizada,  inúmeras freadas sonorizaram pequenas tragédias metropolitanas: colisões traseiras e dianteiras... sons de buzinas, sirenes, motores, berros, agressões verbais vocativando pornofonias...   viaturas policiais ecoando advertências, ambulâncias escavando estrias territoriais no trânsito congestionado que estuprava calmarias... todos se modificaram, tornando-se  descontroladamente irritados, desvairadamente estressados... mas todos sabiam quem eram os culpados ! O homem e a flor de ipê amarelo !
E era preciso puni-los, madalenizá-los, agredi-los, linchá-los... matá-los ! Exterminá-los da agitação das calçadas impregnadas de fumaça e odores peculiarmente urbanos...
Os grupos foram se avolumando, organizando-se numa trôpega multidão entorpecida pela sede de vingança e que, a exemplo de alguns vermes que se deglutem, transformava-se em uma massa disforme de humanidade e densa de vorazes ameaças.
O descontrole era geral. Gritarias, buzinas, sirenes e roncos de motores tornavam-se mais estridentes ainda... decibéis estupravam silêncios. Todos empurravam-se, xingavam-se, agrediam-se física, psicológica e instintivamente...
Num átimo, tiros no ar, gente correndo, gritando, pisoteando-se, cachorros latindo, estridências, confusão e um súbito... silêncio .
Bebadamente gradativa, a calma tornou-se sonolenta e suprimiu cada eco que ainda pairava no ar, transformando-se numa paz profundamente metafísica... findos todos os ruídos humanos, mecânicos, instintivos ou fisiológicos, cada olhar voltou-se  definitivo, para uma inevitável direção.
Nela, o homem e a flor pareciam sublimar a leveza das suas derradeiras passadas, tornando inefáveis aqueles líricos minutos de um passeio eternizado em cada retina perdida em trôpegas abstrações transcendentais.
Numa última, inequívoca e sublime troca de olhares, suas atitudes não careciam de palavras.
Ele deitou-se num banco de concreto, suspirou seu último sorriso e adormeceu, polinizando eternos devaneios. Seus olhos nebulosamente azuis desmaiaram sobre a  mansidão amarela de uma flor de ipê...
Delicadamente, uma tênue brisa acariciou, uma a uma, todas as pétalas que bailaram no ar, polinizando,  com afetuosa generosidade, o encantamento dos velhinhos que ainda sonham, a lúdica abstração das crianças que não conhecem o pecado e sobrenatural  pureza dos poetas que ainda voam, como pétalas... de ipês... amarelos.
_________________________
Rio de Janeiro/Br


eisFluências de Junho de 2011




Há um Gosto Amargo nas Flores
Ariovaldo Cavarzan

“Escrever prosa e poesia é como deixar marcas de passagem, através das trilhas da vida. Importa, vez ou outra, parar para respirar fundo, dar um tempo e admirar o quanto foi deixado à retaguarda, haurindo ali forças e esperanças para a continuidade da jornada.”  A.C.

Em meus tempos de menino, na ânsia de desvendar o mundo,deslumbrei-me ante o perfume e a formosura das flores que enfeitavam vasos, canteiros e jardins de minha casa, tentando identificar-lhes o perfume e o gosto, aprendendo a apreciá-las em sua diversidade de cores, fragrâncias e beleza.
Os sabores eram quase iguais, diferenciados apenas por um toque que ia do amargo puro ao agridoce, com maior ou menor intensidade, embora seus cheiros as tornassem inconfundíveis.
Mas, o olfato, o paladar e a mente de menino, acabaram guardando mais que as simples nuanças perceptíveis aos sentidos.
Aprenderam que as variáveis amargas dos sumos que se esparramavam pelo interior da boca, mostravam-se a mais inesquecível de todas as descobertas.
 Gravaram a verdadeira identidade de cada espécie.
Eram rosas, margaridas, lírios, malmequeres, dálias, girassóis, cravos, violetas, bocas de leão, copos de leite, açucenas, primaveras e flores do campo.
Algumas floresciam em hastes de espinhos, outras se esparramavam no chão, como se fossem tapetes.
A cada nova surpresa, minha mente de menino guardava uma valiosa lição, cujos significados verdadeiros passo a entender agora, em plena fase madura, transportando-os para minha vida cotidiana.
Não devemos nos encantar apenas com as aparências de flores e pessoas.
Importa sentir-lhes o cheiro; conhecer-lhes o sabor; descobrir-lhes a identidade mais íntima; conviver com elas, para entender que, embora algumas se apresentem presas a hastes de espinhos, 
também podem mostrar-se formosas e perfumadas. 
E há ainda aquelas outras que se espalham no chão,  como se fossem tapetes, sem perder a dignidade e a formosura.
Mas todas guardam dentro de si seus verdadeiros cheiros e sabores, nem sempre doces, nem sempre perfumados,com variáveis nuanças mais ou menos amargas, tão somente à espera de um novo despertar da curiosidade de um menino, com muita vontade de desvendar mistérios e peculiaridades escondidas.
O tempo se encarregará de revelar cada conformação, cada haste em que se assenta  uma pessoa, ou uma flor, espinhadas ou não, ou a terra fofa e generosa que lhes prendem os pés.  
Exibirá, por fim,  suas particularidades interiores, suas cores,seus sabores, sua beleza, seu perfume, seus humores, sua espiritualidade e seus valores.
 Enfim, sua capacidade de encantar, embevecer, aceitar, compreender, renunciar, perdoar, acolher, pacificar, esperar, sonhar e amar...

Ariovaldo Cavarzan, Itapira – S.P/Brasil

eisFluências de Abril de 2011



NÃO SE DEIXE ILUDIR
José Geraldo Martinez

Ah! Minha amiga! Não se deixe iludir! Essas pessoas pessimistas que acham uma grande bobagem apaixonar-se, agora na terceira idade, estão sempre cercadas de um certo amargor de alma, provavelmente trazido de um passado distante. Afaste-se urgentemente e se faça de surda! Ama-se em qualquer idade e momento, apesar dos pessimistas e amargos sempre de plantão! O que, às vezes, falta é coragem de abrir as portas do coração e admitir-se amando! Pode observar! A pessoa tem uma certa timidez ou vergonha de confessar o amor que está sentindo e de passar por ridículo(a) diante da família e amigos. Sabe por quê? Lá no subconsciente, escuta ainda a voz dos pessimistas e isto ocorre na maioria das vezes dentro da própria família. Aliás, na maioria dos casos de separação, a própria família não dá qualquer tipo de apoio. Principalmente se você for mulher, que dirá, chegar um dia, você dizendo-se apaixonada? São estas regras que devem ser quebradas, é a síndrome da culpa, sem mesmo ter! Quebrar algumas regras na vida, faz grande diferença... Deixar de compensar os filhos apenas porque saiu para dançar ou porque arrumou um namorado! Não adianta, eles filhos, muitas vezes já criados e pais até, não imaginam que a mãe tenha tesão, fantasias, prazer, sonhos! Isso lembra aquela coisa de primeira professora... a gente imaginava quase uma deusa, que não comia, não peidava, não chorava, não sentia... Uma quase robô que a gente admirava acima de tudo, a ponto de querermos, muitas vezes, até se casar com ela(e)! São esses mesmos filhos, raras exceções, os tais pessimistas e agourentos, que ainda enxergam na mãe a santa de sempre, além de alguns amigos e a família hipócrita que a abandona de pronto em sua primeira crise conjugal. Isto é o suficiente para medos futuros. Daí a importância de quebrar algumas regras ou vai querer ficar eternamente apaixonado(a) pelo seu(sua) professor(a) de primeiro ano? Nossa! Aquela louca com um rapaz bem mais jovem ou vice-versa! E daí? Que homem feio a fulana arrumou e ainda é motorista de táxi!
Como se para amar alguém a gente tenha que pedir currículo ou que tenha participado de algum concurso de beleza! Gente, "as regras existem para serem quebradas"! O que é feio ou bonito se olhado por quem está amando? O amor real tem algumas coisas parecidas com o virtual. Ama-se sem ver o rosto, percebe-se apenas a alma! Falando nisso, quantas(os) não quebraram as tais regras no virtual e ficaram apenas por ali? Triste não é? Da mesma forma quantos fizeram do virtual um ensaio e saíram para o real e estão felizes! Não é raro vermos alguém correndo para frente da televisão, no momento da novela e ficar com os olhinhos vidrados na grande trama amorosa de alguma cena. Triste, não? Você poderia estar fazendo a sua própria novela e nem precisaria de qualquer produtor... O destino estaria encarregado de montar o palco e convidar o personagem!
Basta você dar o primeiro passo, iniciar a primeira cena... quebrando uma regra e aguardar por capítulos de pura emoção! Ainda que o final não tenha sido aquele que você desejou... E dai? Você é a produtora da sua vida e, com certeza, um dia escreverá um final feliz! Pelo menos tentou!

José Geraldo Martinez
Araçatuba - 09/7/2007

eisFluências de Fevereiro de 2011 - Suplemento




ARRUAR POR UM RECIFE HISTÓRICO, CULTURAL E POÉTICO
Pela passagem dos 474 anos do aniversário do Recife

Reportagem escrita e realizada por Mercêdes Pordeus

Recife que canta e encanta quem nele vive e os que o visitam levando consigo a impressão de uma cidade lendária, rica em tradições, porém que a partir delas também se moderniza.
O Recife fala por si só.
 Como?
Vou lhes dizer:
Recife fala através dos seus rios, das suas pontes (que sobre eles tecem um lindo visual ), suas praças, igrejas e teatros...da poesia, desde a popular e livre aquela que está escrita de modo colorida nos seus muros, como se não fosse suficiente se despir para seus transeuntes através dos poetas consagrados que o cantaram em versos e prosa.
Poetas e escritores, muitos já não estão entre nós, porém deixaram como legado um grande acervo que consiste num hino de amor a cidade.
A poesia popular, os cordéis enaltecem o Recife e um dia se tornarão, através da sua continuidade, grande contribuição para as gerações futuras.
Andar pelas ruas do Recife é respirar história, sentir pairar no ar a poesia, reviver um passado de glória e nesse contexto ingressar num mundo real X ilusório.
Recife histórico, lendário com suas lutas de ideais libertários constantes, dentre elas: A Revolução de 1817 e a Confederação do Equador em 1824.
Seu primeiro registro histórico aconteceu em 12 de março de 1537.
Na ocasião desse registro, deu donatário, Duarte Coelho Pereira, recebeu a Carta de Doação da Coroa Portuguesa: Foral de Olinda, nessa carta o lugar era denominado de ancoradouro de navios, onde mais tarde um lugarejo originaria a capital de Pernambuco. No início do século XVII o Recife possuía cerca de 40 casas apenas, as quais se localizavam sobre o istmo que ligava Olinda a Recife. O istmo apresentava pouca largura sendo banhado por um lado pelo mar e outro o Rio Beberibe.
Em 1630 Recife foi invadido pelos holandeses, que inicialmente tomaram Olinda, seguindo para o Recife.
Com eles vieram muitos judeus, que fugiam da perseguição religiosa e juntaram-se aos cristãos novos que já tinham migrado para o Brasil.
Ali estabelecidos deram início ao processo de aterro do Rio Beberibe e sobre esse aterro começaram a edificar prédios, tais como, habitações, lojas. Armazéns, etc.
Essa rua que hoje se chama Bom Jesus, na época era conhecida como Rua dos Judeus.
Em uma destas casas instalaram uma sinagoga, a Kahal Zur Israel (Rochedo de Israel), foi a primeira criada nas Américas e tinha primazia sobre as demais que foram criadas em seguida.
Com a expulsão dos holandeses em 1654 a sinagoga foi desativada e muitos judeus saíram do Recife, seguiram para a Nova Amsterdam, que deu origem a New York.
Recife tornou-se cidade em 1823 e capital de Pernambuco em 1827, foi palco de muitas revoluções sangrentas, marcadas por lutas políticas, mas aos poucos talvez como consequência, foi se modernizando.
Não vou me deter muito na nossa história, pois a encontramos nos livros, nas consultas em internet.
O que eu gostaria mesmo de lhes mostrar como é o Recife atual no seu cotidiano.
Violência? Pobreza? Sim nela existem, mas qual cidade ou capital do Brasil está livre delas? Na melhor das hipóteses, diariamente com o êxodo rural aglomeram-se pessoas nas cidades fugindo das dificuldades, como a seca, por exemplo, em busca de uma "vida melhor" e despreparadas acabam por se amontoarem sem chances de emprego.
Outro problema: a falta de emprego não só no Recife pessoas que receberam uma boa educação formal sofrem a falta deste, quanto mais aqueles que não tiveram chances na vida.
Em decorrência desses problemas, dentre outras realidades, vão surgindo outros.
Contudo, não é problema só na nossa cidade, mas no país em geral,  e isso ocorre também no exterior.
Por isso digo: Recife é uma cidade como outra qualquer do país, mas tem seus valores, suas belezas, tem sua memória, pois não é uma cidade sem história.
Recife. Rio Capibaribe presente e cantados em versos e prosa que por vezes acolhe como reflexo as imagens de lindos casarios em suas águas, como na Rua da Aurora, por exemplo. Que foi uma constante na vida de Manuel Bandeira.
Hoje ele ficaria feliz por ver que as Ruas da Aurora, da União, da Saudade e do Sol, permaneceram com os mesmos nomes, continuam lindos os nomes de suas ruas de sua cidade, e não se chamam Dr. Fulano de Tal.

Por que o Recife e não Recife?
Transcrevo um texto de uma linda obra  cujo título é
ARRUANDO PELO RECIFE de Leonardo Dantas da Silva
SEBRAE 2000.